sábado, 13 de maio de 2017

Os sete dias finais de uma guerrilheira. Capítulo 25

Capítulo 25, vibração sete, dia de vibração dois, uma hora e trinta e três minutos do novo dia.

Com todo respeito à dona morte, misteriosa aos humanos, escrevo.
Os sete dias finais de uma guerrilheira.
Ela falava muito, contava, contava, tentei fechar as contas....pra minhas dúvidas mais profundas sobre a guerra, inútil aos meus olhos limitados, mas não consegui fechar conta alguma.
Volto à minha condição de apenas e tão somente, sentir.
Descrever o meu sentir.
Coloco um mantra, um mantra de ligação com o divino....sou humana, um fantasma humano, logo este corpo emprestado me deixará, como o corpo da guerrilheira deixou o dela....somos a princípio um corpo massacrado por falsos julgamentos, sofremos atravessando a escuridão em busca de luz.
Não existe nem erro e nem acerto.
Nos colocamos na presença de preceitos e massacramos nosso verdadeiro sentir.
Alegria, alegria,alegria é a oração que vem na mensagem de hoje.
Seja alegre, pois a benção está ao seu dispor, acesse-a.
Hoje, já estava na minha cama, quando o movimento da vida fez com que Eu abrisse a janela e vi:
A lua, sem avisar, apresentou seu arco íris.
Tenho certeza que apenas os recodificados viram.
É o Rei, que não cessa seu trabalho em outra dimensão de luz...Eu sinto.
"Eu seisinto"
Vamos à guerrilheira.
Chegou ao meu plantão num final de tarde de quinta feira.
Ainda na cadeira de rodas, dispneica, Eu nem imaginava quem era aquela senhora....
Muito famosa na pequena cidade, como pessoa humana, que adotava crianças, solidária às causas e amiga íntima de uma presidenta.
Mas, tudo isso, fiquei sabendo depois dos papéis da internação.
Trato todos com o preceito de medicina baseada em evidência, portanto, o fato dela ser de esquerda, amiga de presidenta, provedora, pouco me interessava.
Pensava na origem da sua falta de ar...e ela me explicou:
"Nem no INCOR fizeram diagnóstico..."
Disse que apenas UM médico explicou o que ela tinha...e deu prednisona.
Pensei:
"Milagroso corticóide"
Passado sete para oito dias, a guerrilheira ainda estava no hospital.
Sua morte foi por mim assistida.
Presenciei alguns amigos de esquerda à beira do seu leito.
Eu, fazendo contas e nada das contas fecharem....
Ela fazia questão de muito falar e dizer:
"_Ditadura nunca mais"
Relatou que os militares retiraram os olhos azuis de um amigo seu. Isso quando seus amigos de esquerda estavam no quarto....
Eu saía pensando...como farei para diminuir esta dispnéia...fiz inalação com álcool, ela teve uma melhora no sétimo dia, mas na verdade era a melhora da morte, morreu no oitavo dia.
Um desses dias, saindo do quarto, olhei firmemente nos seus olhos pedindo:

-DIGA A VERDADE!!!

Ela soube o que Eu pedi.

Só sei, que Eu não iria dormir sem este capítulo de maio no dia das mães.

Os filhos adotivos da guerrilheira....poderão saber de mais coisas....

1 comentário:

  1. Maeli Aguilera
    Adorei o capitulo, do policial, já me considero policiarista.
    Abraço

    ResponderEliminar